30 de dezembro de 2008

Em 2009


Que tenhamos mais respeito e compaixão ao próximo;
Que desejemos bom dia a todos, na padaria, no elevador, na feira, em casa!
Que demos passagem, ofereçamos o lugar, abramos as portas;
Que sejam atitudes conscientes, feitas com atenção e amor;
Que os sorrisos despertados multipliquem mais e mais atitudes positivas;

Que a retrospectiva 2009 seja sobre a energia do por do sol de Ipanema, sobre as flores da Serra da Graciosa, sobre os Cânions tão pouco conhecidos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, sobre o colorido e a fé nordestina. Que seja sobre o esforço de proteger a rica verde Mata Atlântica, sobre a diminuição do desmatamento pelo gado ou pela soja, sobre as estatísticas positivas da consciência sobre o lixo e as possibilidades de reutilização e reciclagem. Que seja sobre as histórias dos heróis, não só os dos esportes, dos heróis da vida, dos nossos pais, nossos avós, nossos irmãos e amigos. Do político honesto, do engenheiro gentil, da enfermeira carinhosa, do índio livre em sua terra, do agicultor farto.

Temos o poder da transformação. Ela começa com dois sorrisos. O meu e o seu.

Feliz 2009.
Amelia e João

26 de dezembro de 2008

UBATUBA E NOSSA EXPERIÊNCIA COM A PERMACULTURA


Saímos de Nazaré Paulista de alma lavada e o Sol resolveu dar o ar de sua graça. Fizemos uma visita de dois dias ao Bruno e à Tita em Atibaia, bem pertinho de Nazaré Paulista (bem pertinho se não tivéssemos errado o caminho e andado 1 hora a mais de carro!!) Lá comemoramos o aniversário dela e nos divertimos muito!


Seguimos viagem em direção ao litoral e chegamos em Ubatuba. Lá acampamos em Itamambuca. Eu havia ido a Ubatuba há uns 20 anos atrás e fiquei impressionado com as mudanças que ocorreram. Muitas construções à beira-mar e portões de grandes e luxuosos condomínios bloqueando o acesso à muitas praias. Coincidentemente ontem li uma matéria dizendo que essa foi a principal causa de desmatamento ocorrido nos últimos três anos na região. O pouco que ainda resta da mata atlântica vem sendo devastada ilegalmente para dar lugar às construções.

Mesmo assim Ubatuba ainda reserva tranqüilidade e contato com a natureza. A noite de Lua nova permitiu que uma quantidade absurda de estrelas mostrasse também sua luz - uma beleza! Com alegria pudemos testemunhar algumas estrelas cadentes serpenteando o céu! Na primeira manhã acordei bem cedo e fui até os fundos do terreno do camping onde estávamos, onde passa o rio Itamambuca, e sob o canto dos pássaros fiquei contemplando e fotografando a beleza da paisagem e dos detalhes. O Sol da manha que atravessava a mata iluminava cintilantemente algumas folhas de bananeira - essa região, até a geração passada, basicamente viveu da extração da banana e da pesca. No detalhe encontrei uma pequena aranha que me inspirou em um ensaio fotográfico. Enquanto estava entretido com ela, ouvi um ruído no chão e ao meu lado estava o maior Guaiamum (espécie de carangueijo) que vi na minha vida! Isso me fez lembrar minha rica infância em Itacurussá, onde eu e muitas outras crianças nos divertíamos brincando entre a exuberância da mata e a tranqüilidade do mar de lá.


Depois que Amelia acordou saímos de carro para explorar as praias mais distantes. Conhecemos a tranquila Praia do Felix, Ubatumirim e quando chegávamos à praia da Almada, paramos num mirante pra contemplar o mar e avistamos um grande grupo de golfinhos!
O Camping que ficamos chama-se RECANTO DOS PÁSSAROS e foi o melhor em custo benefício que encontramos em Ubatuba. Para os viajantes, recomendamos lugares como esse, que são justos na sua maneira de cobrar e oferecem um maior contato com a natureza. O terreno possui 8000 metros de área arborizada e o rio que atravessa o final do terreno dá acesso à praia de Itamambuca. O local também oferece a opção de chalés com cozinha.

Camping Recanto dos Pássaros
Contato: Sr. Antonio
Tel: 12 3845 1223

No dia seguinte seguimos no sentido contrário (sul), passando por Ubatuba e fizemos uma trilha até a Praia do Bonete. Foi uma agradável caminhada em contato com o verde.


Saímos da Praia na manhã seguinte e subimos um pouco a serra do Mar para chegar ao IPEMA, onde passamos cinco dias aprendendo sobre sustentabilidade num curso de Permacultura. Para quem não conhece o conceito de Permacultura extraímos do site da PERMEAR um excelente e breve texto sobre o assunto (*).

Esse foi o nosso primeiro contato com a Permacultura. Ficamos acampados no IPEMA (Instituto de Permacultura e Eco vilas da Mata Atlântica) onde aconteceu o curso que foi ministrado por Skye, um australiano que vive no Brasil há alguns anos trabalhando com permacultura junto às comunidades no interior de Minas, onde reside com sua esposa. Ele viveu durante muitos anos em uma ecovila na Austrália e depois passou alguns anos estudando no México.

Escrever a experiência de passar alguns dias no IPEMA daria um livro inteiro. Lá os conceitos de sustentabilidade orientam todo o espaço físico e as atividades e o cotidiano. Todas as construções são de materiais reciclados e reaproveitados. As casas são construídas pelos próprios moradores e feitas de pau-a-pique. São sustentadas por postes antigos inutilizados por companhias elétricas. O piso da sala de aula é de doações de casas demolidas e as telhas de tubo de pasta de dentes recicladas. Utiliza-se pouquíssimo cimento e o que tem de vidro ou madeira é comprado em local onde se vende material para reutilização.

Os banheiros são secos, para ser possível o sistema de compostagem que reutiliza o que eles chamam de “recursos humanos”, que nada mais é do que nossas fezes que são ricas em matéria orgânica que são transformadas em adubo. A energia utilizada é Solar (recurso renovável), captada por placas, apesar da fiação da Cia. de energia elétrica se estender até o portão da propriedade.

Parte do alimento consumido no Ipema é produzido lá mesmo em sistema agroflorestal, que imita o sistema natural. Este, diferente das grandes monoculturas, não esgota o solo e não se utilizam fertilizantes químicos e agrotóxicos. Tudo é orgânico e adubado com os “recursos humanos”, restos de comida e outros derivados das composteiras.

A água cinza, proveniente das pias do banheiro e cozinha, é purificada através de filtros biológicos e é reutilizada para regar a horta.

Tivemos, portanto, contato com um ambiente repleto de bons exemplos a serem seguidos.


O curso aconteceu num “clima” descontraído e sem muitas formalidades. Praticamos Yoga, Dançamos em roda, conversamos a beira da fogueira... O experiente Skye falou sobre permacultura através de informações históricas, geográficas e culturais nos deixando mais a par da atual situação global em termos de sustentabilidade.

(Skye dos dando "asas" para voar no infinito das possibilidades)

Se já tínhamos uma visão alarmante da atual situação de nosso planeta, ficamos ainda mais motivados a pensar e atuar de maneira sustentável.

(Patricia em sua casa de pau a pique)

No curso, depois de uma visão geral sobre o assunto, partimos para a ação que consistiu em nos dividirmos em grupos e planejarmos um ambiente sustentável, no caso uma eco vila. Eu e Amelia ficamos em grupos separados e foi uma experiência muito rica. O trabalho em grupo nos permitiu trocar muitas informações e trabalhar com as diferenças a favor da coletividade. A tomada de decisões por consenso é comum neste contexto. No final do curso todos os grupos se apresentaram e pudemos compartilhar ainda mais idéias.

(Amelia com seu grupo no planejamento de uma Ecovila)

(Fazendo a apresentação do website da Ecovila do meu grupo)

Sair da experiência de Nazaré Uniluz para passar esses dias num lugar tão diferente, tão isolado dos conceitos de cidade grande, e com pessoas que estão numa busca parecida com a nossa, de equilíbrio, de conhecimento para a melhora da qualidade de vida em todos os aspectos, foi de tirar o fôlego. Ficamos pasmos diante de tanta informação das dificuldades que estamos trazendo para o planeta e motivados com a quantidade de energia positiva que recebemos para continuar o nosso caminho.

Amelia disse que depois desses dias a vida dela nunca mais será a mesma. Realmente estamos cada vez mais nos tornando conscientes de que precisamos mudar muitos conceitos e atos para podermos satisfazer nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.

No livro “Alfabetização Ecológica” Fritjof Capra diz “Uma vez que a característica mais proeminente da biosfera é a sua capacidade inerente de sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável terá que ser planejada de maneira tal que os seus estilos de vida, tecnologias e instituições sociais respeitem, apóiem e cooperem com a capacidade da natureza de manter a vida.” Que nos sirva de inspiração!

(*) “Permacultura é algo fácil de identificar com um monte de desejos pessoais profundos entre aquelas pessoas que sonham com paz, harmonia e abundância. Mas leva-se muito tempo para entender. Não se sinta desencorajado o leitor que está ansioso por conhecer a Permacultura ou aquele que julgava tê-la compreendido: os conceitos estão dados e são até bastante claros. A verdade é que as coisas mais importantes da vida exigem tempo e dedicação, tanto mais quando representam quebras de paradigmas.

Assumir para nossas vidas aquilo que é radicalmente novo não é tarefa fácil – no mais das vezes enfrentamos nossos próprios limites de compreensão e aceitação. Por isso, é preciso coragem, fé e determinação para tornar-se um permacultor. E tomar o tempo como aliado.

Nas palavras de Bill Mollison de que mais gosto, a Permacultura é “uma tentativa de se criar um Jardim do Éden”, bolando e organizando a vida de forma a que ela seja abundante para todos, sem prejuízo para o meio ambiente. Parece utópico, mas nós praticantes sabemos que é algo possível e para o qual existem princípios, métodos e estratégias bastante factíveis. Os exemplos estão aí, para quem quiser ver, nos cinco continentes e em mais de uma centena de países.

Conceitos
Os australianos Bill Mollison e David Holmgren, criadores da Permacultura, cunharam esta palavra nos anos 70... Estavam buscando os princípios de uma Agricultura Permanente... O conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, como resultado de um salto na busca de uma Cultura Permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos e ambientais.

Para tornar o conceito mais claro, pode-se acrescentar que a Permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo a que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.

No centro da atividade do permacultor está o design, tomado como planejamento consciente para tornar possível, entre outras coisas, a utilização da terra sem desperdício ou poluição, a restauração de paisagens degradadas e o consumo mínimo de energia...

No primeiro nível, a ação do permacultor volta-se principalmente para áreas agrícolas com o propósito de reverter situações dramáticas de degradação sócio-ambiental. “Culturas não sobrevivem muito tempo sem uma agricultura sustentável”, assegura Bill Mollison. No entanto, os sistemas permaculturais devem evoluir, com designs arrojados, para a construção de sociedades economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente sensíveis, dotadas de agroecossistemas que sejam produtivos e conservadores de recursos naturais.

Cooperação e solidariedade
A Permacultura exige uma mudança de atitude que consiste basicamente em fazer os seres humanos viver de forma integrada ao meio ambiente, alimentando os ciclos vitais da natureza. Como ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por uma ética fundadora de ações comuns para o bem do sistema Terra.

Mollison e Holmgren buscaram princípios éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições espirituais, que estão orientados na lógica básica do universo de cooperação e solidariedade. Não é possível praticar a Permacultura sem observá-los.

Primeiro, será preciso assumir a ética do cuidado com a Mãe-Terra para garantir a manutenção e a multiplicação dos sistemas vivos. Depois, o cuidado com as pessoas para a promoção da autoconfiança e da responsabilidade comunitária. E por fim, aprender a governar nossas próprias necessidades, impor limites ao consumo e repartir o excedente para facilitar o acesso de todos aos recursos necessários à sobrevivência, preservando-os para as gerações futuras.

Como parte dos sistemas vivos da Terra e tendo desenvolvido o potencial para desfazer a sustentabilidade do planeta, nós temos como missão criar agora uma sociedade de justiça, igualdade e fraternidade, a começar pelos marginalizados e excluídos, com relações mais benevolentes e sinergéticas com a natureza e de maior colaboração entre os vários povos, culturas e religiões.

Toda ética tem a ver com práticas que querem ser eficazes. “A ética da Permacultura serve bem para iluminar nossos esforços diários de trabalho com a natureza a partir de observações prolongadas e cuidadosas, com base nos saberes tradicionais e na ciência moderna, substituindo ações impensadas e imaturas por planejamento consciente”, assevera Bill Mollison. A chave é estabelecer relações harmoniosas entre as pessoas e os elementos da paisagem.”

Mais informações: PERMEAR (www.permear.org.br)

19 de dezembro de 2008

Felizes com a crise!

Escrito por Danilo Pretti Di Giorgi

Imagine se, como no livro Revolução dos Bichos, de George Orwell, os animais do planeta tivessem senso crítico e opinião, ou, como em Senhor dos Anéis, obra de J. R. R. Tolkien, as árvores fossem capazes de fazer reuniões para decidir o que é melhor para sua floresta. Teríamos hoje a maior parte dos seres vivos do planeta a comemorar as possíveis conseqüências ambientais positivas da crise.

macaco2

Num cenário recessivo, seriam grandes as chances de redução nas emissões de carbono, no consumo de madeira nativa e na demanda por novas áreas de floresta para criação de gado e plantio de soja. Cairia também o crescimento do consumo de energia elétrica e, assim, arrefeceria a pressão para a construção de novas hidrelétricas em áreas de floresta virgem; até mesmo as linhas de financiamento para obras de grande porte escasseariam. A pesca industrial também seria reduzida, o que daria um respiro para as espécies de peixes marinhos ameaçados de extinção. Com a queda da produção e do consumo, seria menor a quantidade de mercadorias transportadas entre as cidades e países, com menos caminhões queimando o óleo diesel de quinta qualidade que polui as estradas e cidades brasileiras com seus índices indecentes de emissão de enxofre. Uma recessão faria diminuir o número de celulares (e suas baterias venenosas) sendo jogados no lixo a cada minuto. Com a queda nas vendas de automóveis e demais produtos industrializados que utilizam minério de ferro e outros minerais em sua produção, as reservas desses recursos naturais (que são finitas, não custa relembrar) e a natureza ao redor delas seriam poupadas. Com retração da economia, as pessoas consumiriam menos e cairia a produção de lixo, tornando menos urgente encontrar soluções para a superlotação dos aterros sanitários e dos famigerados lixões.

Enquanto arrancamos os cabelos preocupados o crescimento do desemprego, nossos bichos e árvores falantes celebrariam as notícias deste outubro de 2008, segundo as quais a Petrobras reduziu a previsão de investimentos e ampliou os prazos para a exploração do petróleo na área do pré-sal. Mais: o governo Lula prevê cortes nos investimentos em infra-estrutura e nas obras do PAC, algumas delas verdadeiros desastres ambientais programados.

Há ambientalistas que argumentam que a crise pode de alguma forma ser prejudicial, ao inibir investimentos e decisões governamentais ambientalmente positivas. Os debates travados na reunião de cúpula da União Européia, realizada este mês, reforçam a tese: nove integrantes do bloco, liderados pela Itália de Berlusconi, usaram a crise econômica como razão para colocarem-se contra um plano já acordado meses atrás, que prevê redução em 20% da emissão de gases que provocam o efeito estufa até 2020. Para Berlusconi, “as empresas italianas não estão em condições de arcar com as despesas para atingir essas metas”.

Mas o histórico recente de desrespeito a acordos de emissão de gases mostra que esse caminho não merece ser levado a sério por quem realmente se preocupa com a questão ambiental. O famoso Protocolo de Kyoto, por exemplo, assinado em 1997, morreu de desgosto por ter sido sistematicamente desrespeitado pelos governos signatários - e isso apesar de que suas metas de redução eram consideradas insuficientes para conter os efeitos das emissões.

A provável redução no direcionamento de recursos para conservação é outra preocupação válida. Mas arrisco afirmar que os benefícios da retração na degradação ambiental em caso de recessão superariam em muito eventuais problemas com corte de verbas para projetos de proteção e conservação.

Seja nos próximos meses ou daqui a cinco, 15 ou 100 anos, a derrocada desse sistema econômico é inevitável, uma vez que se baseia em premissas insanas e insustentáveis, como a de que os recursos naturais que o alimentam têm suprimento infinito e que o crescimento econômico constante e ilimitado é possível. Em algum momento, a escassez de recursos em geral, em especial os minerais (muitos com data marcada para acabar, como destacado neste espaço no artigo O preço do índio), será um dos fatores que vão inviabilizar a perpetuação do sistema linear de extração-produção-consumo no qual estamos mergulhados e nos afundando. Mas tenho esperança de que não precisaremos secar as fontes para interromper essa espiral de insanidade.

Apesar de saber que toda a humanidade, incluindo eu, minha família e amigos, sofrerão na pele as duras conseqüências de um mergulho recessivo da economia, tendo a ficar do lado dos bichos e vegetais encantados e torcer para que o remédio amargo seja tomado logo desta vez, e o quanto antes. Porque, dada a velocidade que a destruição assumiu nas últimas décadas, apesar de ainda termos hoje grandes pedaços de floresta relativamente intactos, muitos peixes no mar e alguns rios limpos e livres de represas, corremos o risco de perder tudo isso em poucos anos.

As conseqüências das barbeiragens protagonizadas por homens elegantes que usam gravatas de milhares de dólares mostram que talvez não seja necessário esperar que as geleiras derretam, o sertão vire mar nem a Amazônia transforme-se num deserto para que o caos se instale entre nós. Melhor que ele venha logo enquanto ainda temos grande parte da biodiversidade do mundo intacta. E tomara que aprendamos alguma coisa de útil com sua chegada.

Danilo Pretti Di Giorgi é jornalista.

Fonte: Correio da Cidadania.

11 de dezembro de 2008

Mãe


Obrigado Mãe,
pela fartura que me serves de seu ventre.

Obrigado Mãe,
pelo amor que alimenta minha alma.

Obrigado Mãe,
por seu eterno Ser.

Obrigado mãe.

3 de dezembro de 2008

Entrevista Rádio CBN


Demos uma entrevista para a Rádio CBN no último sábado.
Eles tem um programa sobre blogueiros e nos chamaram para falarmos da nossa expedição e do nosso blog.
Dêem uma ouvida em parte da entrevista!!

Vivendo Nazaré Uniluz

Estamos há alguns dias sem escrever por dois motivos. O primeiro é a falta de internet. Temos ido à lugares isolados que realmente não têm sinal. Mas o segundo e principal motivo é a introspecção. O blog nos faz escrever cada detalhe das nossas experiências mas as vezes precisamos sentar um pouco e respirar pra organizar as idéias. Foi o que aconteceu nas últimas semanas. Estivemos em lugares que estão mudando as nossas vidas. É difícil colocar em palavras, não há palavras suficientes ou eu não as conheço suficientemente. São lições, são paradoxos, são inícios que são fins e fins que são inícios.


Nazaré Universidade da Luz, em Nazaré Paulista – SP, tem mais de 25 anos de existência. Foi fundada por um grupo de pessoas com a necessidade de transformar o mundo e em todos esses anos já passou por profundas mudanças, que acredito terem sido positivas.
Nazaré Uniluz, na minha opinião e na do João, é um lugar elevado que ilumina pela sua simplicidade. Simplicidade no trato da alma, do corpo, do mundo. Isso é luz pois acho difícil ver simplicidade na alma, no corpo e no mundo.

Vou usar a palavra “retiro” pra tentar me expressar. Nazaré é um lugar para se retirar e fazer uma conexão com seu eu interno. Eles prezam pelo silêncio, pela meditação, atenção plena no aqui e agora, cuidado amoroso e partilha com tudo e todos. Mas lembrando, tudo trabalhando o que há de mais simples dentro de nós. Enfatizo isso porque acho que lugares “elevados” como esse as vezes assustam aos que não têm tempo para pensar no auto conhecimento devido ao dia-a-dia. Nazaré Uniluz é um lugar para todos!

Chegamos lá numa segunda-feira para participar da atividade de “Viver em Grupo”. Naquela semana a ênfase foi em serviços: “Servir é mais do que simplesmente realizar um serviço. No caminho espiritual o serviço ... é uma oportunidade de se colocar em contato com o amor que permeia todas as coisas e todos os seres. Uma real experiência de unidade. Servir, colocar seus talentos a disposição do bem maior, é expressar o amor incondicional...”

Fomos muito bem recebidos e ficamos impressionados com tudo, com a beleza do jardim e sua imensa quantidade de flores, com o sorriso e olhar das pessoas, com seus objetivos e histórias.
Nazaré possui o que eles chama de “ritmo diário”. São pequenas regras e horários que devem ser cumpridos para que se mantenha a harmonia do lugar. As 7:00 há a meditação da manhã seguida de um mais que delicioso café da manhã. A meditação se repete às 12:00 e às 19:00, todas na sala de meditação ou, a da tarde, no jardim.
A sala de meditação mereceria um capítulo a parte - imaginem a energia de uma sala com mais de 25 anos de pessoas meditando lá dentro. É forte... mas é simples...
Brinquei com a nossa facilitadora Rosangela que a meditação era a melhor parte do dia pois significava que 20 minutos depois era a hora da refeição. Acho que não há processo de auto conhecimento suficiente para melhorar minha gula. A comida de lá é muito saborosa! E só de pensar que 1 pessoa só consegue cozinhar aquela delícia toda para um batalhão de gente é de impressionar. Parabéns para a Márcia.
A maior parte do alimento é produzida lá mesmo. Eles possuem uma horta enorme, plantam feijão, batatas e muitos outros vegetais e frutas. Plantam também ervas medicinais, temperos, de tudo e mais um pouco.
Das 22 horas até apos o café da manhã do dia seguinte o silêncio é preservado. Isso ajudou muito a acalmar a nossa mente. Você acorda com calma. Acorda sem pensar em tudo que deverá fazer no dia. Você acorda, medita e toma o seu café da manhã para alimentar o corpo. O dia mesmo parece só começar depois desse ritual.

Durante o dia nos dedicávamos à atividades cotidianas para manter o campus organizado, sempre enfatizando o serviço como expressão da alma. Toda manhã e tarde a Rosangela nos dava duas ou três opções para escolhermos. Eu e o João sempre optávamos por atividades distintas para termos experiências independentes. Durante nossa estadia tivemos a deliciosa oportunidade de trabalhar na horta, onde mexi com terra pela primeira vez na vida, ajudamos na cozinha, na arrumação e limpeza do lugar, na jardinagem e na sala de artes ajudando a tear um tapete - com certeza uma das minhas atividades prediletas. Só não foi a que mais gostei porque em uma das tardes ficamos na padaria produzindo os pães para a semana seguinte. Eu havia passado 4 dias só me deleitando com este pão e tive a oportunidade de fazê-lo para outras pessoas. E pra gente, pois compramos 5 dos pães que fizemos! Aguardem pois a receita está na nossa bagagem!

Antes de cada atividade retirávamos um papelzinho que continha um Anjo que nos acompanharia durante aquele dia. Tirei duas vezes o Anjo da Aventura: “Quando surge o convite para a aventura, é hora de seguir adiante e abrir o caminho para o novo, de fazer o que for necessário para cruzar a fronteira entre o conhecido e o desconhecido, trazendo riquezas espirituais sem preço.” Acho que não preciso dizer muita coisa a mais né...


(Todos os anjos possuem um desenho. Este é o desenho do Anjo da Aventura.)


Termino este texto da mesma forma que o comecei para enfatizar a filosofia chinesa Taoísta de que todo fim é um início e todo início é um fim:
Demorei para escrever estas palavras porque para mim é um desafio tremendo me expor e me colocar em julgamento para os amigos e familiares que estão tão longe de mim agora. Os julgamentos tendem a ser positivos mas a minha insegurança de estar mudando tanto os paradigmas da minha vida me trazem um medo constante de ser mal interpretada. Os nossos últimos dias aqui realmente foram muito intensos e eu estava com medo de não encontrar as melhores palavras para me expressar e passar o conhecimento que estamos vivenciando e que sinto a necessidade e obrigação de passar adiante.
Hoje o João foi fotografar e eu quis me dedicar a este texto. As palavras fluíram de forma abençoada e o que eu achei que fosse ser um martírio foi... foi simples!

Eu o João compramos em Nazaré o livrinho dos Anjos. Quando abri meu anjo de hoje, vejam a dádiva (que nesse momento me traz lágrimas aos olhos):
“O Anjo da Benção
A benção de ser consciente, de estar aberto, é a nossa maior dádiva: é algo que jamais se restringe a uma só pessoa. Quando somos abençoados, tudo a nossa volta participa conosco desse momento. Abençoe e torne sagrado tudo o que você é nesse instante.”

Obrigada à todos.
As sensações são minhas e do João.