26 de fevereiro de 2009

As cores da Bahia!

Vem aí a exposição deste último e encantador roteiro, a Bahia! Pra dar água na boca, algumas fotos.
Depois de Trancoso já passamos por Itacaré e pela Península de Maraú. Estaremos na sequência publicando as matérias destes lugares com fotos e muito AXÉ!







17 de fevereiro de 2009

Os limites do capital são os limites da Terra

Por Leonardo Boff

Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado Earth Overshoot Day , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe. O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas.
Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro A Grande Transformação, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.
Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado.
A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar as usual a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação? Tudo isso tem um preço: a delapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.
Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migalhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vítimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E pour cause, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.
A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.
Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós.
A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro A era dos extremos diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.
Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos dabates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.
As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso.
A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e não há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilizar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.
De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredito de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.
Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada.
Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os países ricos quisessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.
A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.
Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estragemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não serão capazes de reanimá-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia mas esgotou sua virtualidade de nos oferecer um futuro discernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.
Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demens, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.
Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humanamente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.
Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos: (1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza; (2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca; (3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos; (4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal; (5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.
Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela Energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo mas criativo. Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar.
*Leonardo Boff é teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra.
Fonte: Envolverde/Agência Carta Maior

16 de fevereiro de 2009

TRANCOSO

Passamos por Trancoso em duas ocasiões durante este trecho da viagem pela Bahia. A primeira foi quando estávamos em Caraíva e o casal que estava conosco queria curtir a praia de lá (Trancoso fica a mais ou menos 40 km de Caraíva). A segunda visita, que foi depois de Santo André, foi para curtir o Club Med (férias da viagem!) já que eu havia ganho 2 diárias de presente da minha mãe. Ela faz tanto evento lá que a sua empresa NC Eventos esta na classificação “Incomparable”- é uma das agencias que mais vende Club Med no Brasil e tem direito há algumas diárias gratuitas por ano.Tenho que confessar que a experiência da praia foi terrível. Para parar o carro na rua você paga R$ 5,00. Depois desce na praia (dos Nativos, que fica exatamente abaixo do Quadrado, a praça principal) num calor insuportável. A praia é linda, cheia de falésias, mas só há 1 opção de restaurante pra você sentar na sombra. Só que esta opção custa R$30,00 por pessoa - para sentar! (Lembrando agora realmente dá vontade de rir!)

A outra opção, que foi a que fizemos, é caminhar alguns metros até a praia dos Coqueiros. Não deu nem pra ver se lá há coqueiros porque a praia é infestada de barracas e restaurantes. Muito barulho. Tudo muito caro. Pessoas muito excêntricas, coloridas, tererês, música alta, enfim, de tudo um pouco – Axé!
O João abandonou o barco, quer dizer, o restaurante! Deixou a gente lá no meio da galera e foi ler o livro de Sai Baba encostado numa canoa a uns 500 metros da farofa. Mas eu, a Nat e o Diogo desfrutamos de uma boa cervejinha e constatamos o quanto a vida é bela – longe de tanta bagunça!

Já na segunda experiência, a do Club Med, ahhh - paraíso! (pelo menos pra mim)
Já fui há muitos resorts por aí e nunca consigo sentir o prazer que o Club Med proporciona. Não quero e nem preciso puxar sardinha pra ninguém mas acho que resort, resort, só o Med mesmo. A energia é especial e sentimos isso bem nos dois dias que estivemos lá.

João não é muito fã deste tipo de turismo (ficar numa piscina com cloro em frente ao mar), o desperdício também o encomoda. Mas se divertiu brincando de arco-e-flecha e claro fotografando as belezas da natureza ao redor. Numa das manhãs ele acordou para fotografar o Sol nascendo e disse ter visto o mais belo arco-iris de sua vida. As fotos virão depois, serão reveladas.

Uma das grandes dificuldades que estamos tendo nessa viagem pra Bahia é o sol forte e o calor. O sol nasce antes das 5 da manhã então às 9 ele já esta fritando como se fosse meio-dia - e assim permanece até as 5 da tarde. É muito quente! O gasto em protetor solar está pesando no orçamento!!!! E a minha pele não está aguentando. Não aguenta mais o sol e não aguenta mais o protetor solar!
Então tenho que confessar que na primeira manhã que passamos no Med eu e o João só queríamos saber do quarto com ar-condicionado! Acordamos cedo pra tomar café da manhã, voltamos pro quarto, e só saímos de lá na hora do almoço! Mas felizes da vida. Um sorrisão no rosto de termos passado a manhã inteira tomando banho de ar condicionado!

O Club Med fica na praia de Taipe, entre Trancoso e Arraial D’ajuda. A praia é belíssima. Muito bonita mesmo. E rendeu boas fotos.
Visitamos também o Quadrado, que apesar dos preços exorbitantes dos produtos vendidos nas lojas e nos restaurantes, é um lugar lindo de passear no fim da tarde.
Para quem não sabe, o Quadrado é o vilarejo em Trancoso que faz mais sucesso que as praias. É um enorme gramado com casinhas coloridas ao redor e uma igrejinha que fica no topo da falésia. Dizem que o nascer da Lua é fantástico. No dia em que fomos lá, 2 de fevereiro, era o dia de Iemanjá. João estava fotografando um batizado de capoeira e de repente passou uma pequena procissão carregando a estátua de Iemanja até o mar. Entre cânticos e muita emoção ,João estava lá clicando - foi um momento bem especial pra ele, afinal Iemanja é a rainha das Águas do Brasil! Foi um privilégio estar na Bahia num dia como esses.
É um privilegio estar vivendo tudo isso!

10 de fevereiro de 2009

Santo André - BA

(Rio João de Tiba)

“Conta a lenda que há um Santo André de ouro guardado no fundo dessas terras. O santo foi trazido por um padre temeroso que a imagem desaparecesse como tantas outras da sua Igreja... Em Vila de Santo André tem algo que não vemos e nem tocamos. Apenas sentimos como o brilho do ouro no fundo da terra.”
Tirei essa descrição do site oficial de Santo André : http://www.santoandre-bahia.com/ não só por contar a possível origem do nome mas porque descreve em perfeição o ar poético que se sente naquele lugar. Tem mesmo algo que não vemos e não tocamos, só sentimos. A vibração é muito positiva. As pessoas tem alguma coisa de especial. E Santo André é só mais um carimbo do quanto a Bahia é linda de morrer!
(João fotografando a vista atrás do mangue de Santo André)

Fica há 25 km de Porto Seguro, pertence ao distrito de Santa Cruz Cabrália e pra chegar lá é preciso atravessar o rio de balsa. A vila de pescadores, que basicamente consiste de 1 rua principal, é uma enseada com um trecho voltado para o mar e o outro para o rio João de Tiba.
O lugar ainda é pouco explorado e esperamos que assim permaneça. Me parece que as pessoas que moram lá, muitas delas com suas histórias citadas nesse site que indico acima, têm consciência da importância de se proteger a natureza para manter a qualidade de vida. Mesmo assim, todos os dias na hora do almoço chega a chalana da CVC com mais de 100 pessoas que desembarcam na praia pra passar mais ou menos 2 horas comendo, bebendo e curtindo. O som é altíssimo e a bagunça é grande. Faz parte, são muitos os que vivem do turismo, mas que dá um medo da “farofa” se tornar o prato principal, ah dá!

O ponto negativo da nossa visita à Santo André foi que o João pegou uma virose e teve febre. Isso fez com que a gente acabasse passando muitas horas dentro do chalé que alugamos. Ainda bem que estávamos bem instalados.
Acho que na nossa viagem tem vários anjos nos acompanhando. Um dos mais presentes é o “anjo da hospedaria”! A gente só arranja lugares muito bons pra se hospedar. Sempre com um preço mais do que acessível, são lugares confortáveis, limpos, cheios de estrutura e em localizações privilegiadas!
(Um dos chalés do Quintal Tropical onde nos hospedamos)

Em Santo André nos hospedamos no Quintal Tropical - da Gracinha. A Graça é uma Amazonense/Carioca que mora em Santo André há mais de 15 anos. Ela, junto com seu marido Celso, tocam esse lugar lindo que, alem de duas cabanas para aluguel, servem um café da manhã que é digno de hotel 5 estrelas. Tem todas as frutas possíveis, sucos naturais feitos na hora, queijo, geléia caseira, além de um pão integral que a Graça mesma faz. Delicioso! As cabanas são muito aconchegantes, com camas enormes e o casal fez questão de nos receber como amigos.
(Nosso chalé em Santo André)

Anotem aí a indicação do lugar pra ficar quando visitarem Santo André (o preço é excelente!):
Quintal Tropical Chalé
Email: celso-paternostro@hotmail.com
Fone: (73) 99655373 / (73) 99999487 (Graça ou Celso)
End: Rua Beira Rio S/N – Santo André

(Praia Guaiú acima e abaixo)
Nos dias em que o João melhorou da febre, passeamos pelas praias de Santo André e da Ponta de Santo Antonio (juntas parecem uma única e extensa praia) e fomos até a Guaiú outra praia linda que fica há mais ou menos 17 km de Santo André. Dizem que a Mogiquiçaba, há 25 km, também vale a visitação, mas essa teremos que deixar pra depois porque o sol forte e o calor não estão para brincadeira!

Outro passeio muito recomendado que acabamos não podendo fazer é o passeio de barco para mergulhar nos corais de Araripe e Coroa Alto. Vai ter que ficar pra próxima. Mas só a praia de Santo André já vale a pena. Quando a maré tá baixa, ela forma várias piscinas naturais que são deliciosas. Vale a pena também alugar um caiaque pra remar pelo manguezal (a foto ao lado mostra o João se aventurando - tudo para uma boa foto!).
Até a próxima Santo André!

6 de fevereiro de 2009

CARAÍVA


Pra quem viaja pelo litoral da Bahia, Caraíva é parada obrigatória. Eta lugar charmoso! Fica na península entre o rio Caraiva e o mar. O charme do lugar começa já na chegada quando pega-se uma canoa pra atravessar o rio. E se tiver muita bagagem, do outro lado do rio você paga para uma charrete movida a mula levar sua bagagem até uma casa ou pousada.



A vila é toda calçada com ruas de areia. As casinhas coloridas ficam discretas entre tantas árvores. A vila só passou a ter luz elétrica faz um ano, mas continua com pouca luminosidade nas ruas, aumentando o charme e produzindo o céu estrelado mais bonito que eu já vi – sem exageros – parecia cenário de cinema, estrelas dos pés à cabeça!

Caraíva é o lugar pro viajante que gosta de uma natureza ainda preservada mas não gosta de exílio total. A praia é bem extensa e é frequentada apenas próxima a vila a saída, mas ela se prolonga em grande trecho deserto até chegar em Barra Velha. O mar é calmo e fica com uma cor esverdeada linda quando a maré fica alta. Cruzando o rio, pode-se camihar até a famosa praia do espelho. No areal onde o rio se junta com o mar, as crianças brincam até anoitecer e a paisagem fica mais bonita ainda com o céu todo estrelado. Ao mesmo tempo, tem muita badalação pra quem quer. Bons restaurantes, lojas diferentes, boas pousadas e um excelente forró que vara a madrugada todas as noites. Durante o verão tem também um grupo de chorinho que toca numa pizzaria e é digno de aplausos de pé.

Tivemos pela primeira vez na nossa Expedição a companhia de mais dois viajantes. Natalia e Diogo são de São Paulo e estavam viajando pela Bahia durante as férias. Nos conhecemos no passeio de Abrolhos. Estavam hospedados na mesma pousada que a gente e, com o mesmo espírito aventureiro de acampamento e viagem não programada, iam seguir rumo à Caraíva.


(Nat e Diogo)

Não sabíamos exatamente como ia ser essa experiência. Sempre quisemos ter companhias temporárias durante a viagem - além de quebrar a rotina, faz a gente aprender coisas novas - mas a verdade é que eu e o João temos muitas idiossincrasias. Como bons capricornianos (o ascendente dos dois!) temos manias, processos, gostamos das coisas do nosso jeito. Mas pra Natalia e pro Diogo simplesmente não tinha tempo ruim! Que pessoas generosas! Diogo estava sempre falando alguma coisa engraçada e a Natalia espalhando a sua doçura. Ela é professora de dança e pilates e ele é engenheiro. O João aproveitou pra pedir dicas de exercícios e eu aproveitei pra ele consertar tudo quanto é tipo de coisa que precisava de arrumação ou soluções engenhosas. Os dois eram bem diferentes da gente e foi muito bom ver um casal “recém juntado” tendo sonhos tão diferentes dos nossos com as mesmas chances de acertar, cada um no seu mundo.

(Acima a casinha que alugamos e abaixo a rua mostrando a distância que estávamos da praia)


Alugamos uma casinha muito confortável a pouquíssimos metros da praia. Ficamos 5 dias em Caraíva e os dias consistiam em relaxar naquela praia linda, passear pelas lojinhas, fazer umas caminhadas e, quando sobrava fôlego, dançar um forrozinho.

Em um dos dias João, Natália e Diogo foram conhecer a aldeia dos índios Pataxós que fica às margens da praia de Barra Velha, há 7 km de Caraíva. Eu preferi ficar em casa por causa do excesso de sol. Na caminhada pela praia João encontrou algumas crianças indígenas pescando e quando chegou lá conversou com alguns índios que lhe explicaram um pouco sobre a vida na aldeia. A aldeia de Barra Grande é considerada a aldeia mãe, ou seja, a primeira e principal da região. Os índios vivem basicamente do extrativismo, inclusive dentro da uma Reserva Extrativista de Corumbáu.

"A Reserva Extrativista é uma Unidade de Conservação destinada à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis por populações nativas e extrativistas. Tem como próposito garantir a terra as famílias nativas e extrativistas, conservar os recursos naturais por meio de sua exploração sustentável, organizar, capacitar ou fortalecer o processo de organização dos moradores para a co-gestão com o IBAMA dos espaços e recursos naturais, e implementar alternativas de renda que propiciem a melhoria da qualidade de vida das famílias que habitam na área".

Os índios da aldeia vivem basicamente da exploração dos recursos naturais da região para produzir o artesanato feito de fibras naturais, madeira, sementes... E também da pesca. Mas percebemos que eles vivem hoje com muitas dificuldades econômicas e sociais.

Nesse mesmo dia eu recebi a visita de duas crianças, ambos da aldeia, que entraram pra consertar um móbile que eu tinha comprado dos índios e que tinha quebrado. Era um casal, não eram irmãos, deviam ter em torno de 11 anos. Ela é filha do cacique. Foi um encontro especial que palavras não descreveriam. Não sei explicar o porquê. De qualquer maneira, o que vale dizer aqui é que as crianças estavam simplesmente mortas de sede e fome. Durante as férias escolares saem todos os dias pra vender artesanato em Caraíva. O café da manhã consiste em uma xícara de café. Depois caminham 7 km pra chegar lá e passam o dia de baixo do sol abordando turistas. Só comem ou bebem água se venderem alguma coisa. Naquele dia já eram 3 da tarde e como não tinham vendido nada, não tinham bebido nem um copo de água desde de manhã, muito menos almoçado. Se não vendem nada, voltam pra casa (mais 7 km) por volta das 5 da tarde pra comer. Fiquei mexida.

(Crianças da aldeia que me visitaram em casa)

Lógico que servi eles de água, dei barras de cereal (gentilmente cedidas pela Nat) e fiz um sanduíche. O problema todo é que eu queimei os sanduíches! Os dois! Quer dizer, o dela só tava torradinho, do jeito que eu gosto com o pão mais escurinho, mas pra ela tava queimado! O dele... bom, o dele eu queimei mesmo! Ah, e fiquei tão entretida com os dois que, acreditem ou não, também queimei o feijão que tava no fogo! Aliás, agora mesmo escrevendo esse texto, acabei de queimar a batata suíça que tava na frigideira - s-é-r-i-o!!!!!! ☺

Antes de irem embora eles me presentearam com uma pulseira e dois garfinhos de madeira. Acabaram deixando cair também um colar. Guardei os objetos como se tivessem sido presentes divinos... Porque foi uma troca divina!


(Linda índia Pataxó posando com o bicho preguiça)

Bom, depois de nos presentear com um guia só de praias, algo que estamos usando intensamente, o casal foi embora, rumo à SP.
Obrigada por tudo casal! Espero continuarem nos acompanhando pelo menos virtualmente!
E nós seguimos para Santo André.