Saímos de Nazaré Paulista de alma lavada e o Sol resolveu dar o ar de sua graça. Fizemos uma visita de dois dias ao Bruno e à Tita em Atibaia, bem pertinho de Nazaré Paulista (bem pertinho se não tivéssemos errado o caminho e andado 1 hora a mais de carro!!) Lá comemoramos o aniversário dela e nos divertimos muito!
Seguimos viagem em direção ao litoral e chegamos em Ubatuba. Lá acampamos em Itamambuca. Eu havia ido a Ubatuba há uns 20 anos atrás e fiquei impressionado com as mudanças que ocorreram. Muitas construções à beira-mar e portões de grandes e luxuosos condomínios bloqueando o acesso à muitas praias. Coincidentemente ontem li uma matéria dizendo que essa foi a principal causa de desmatamento ocorrido nos últimos três anos na região. O pouco que ainda resta da mata atlântica vem sendo devastada ilegalmente para dar lugar às construções.
Mesmo assim Ubatuba ainda reserva tranqüilidade e contato com a natureza. A noite de Lua nova permitiu que uma quantidade absurda de estrelas mostrasse também sua luz - uma beleza! Com alegria pudemos testemunhar algumas estrelas cadentes serpenteando o céu! Na primeira manhã acordei bem cedo e fui até os fundos do terreno do camping onde estávamos, onde passa o rio Itamambuca, e sob o canto dos pássaros fiquei contemplando e fotografando a beleza da paisagem e dos detalhes. O Sol da manha que atravessava a mata iluminava cintilantemente algumas folhas de bananeira - essa região, até a geração passada, basicamente viveu da extração da banana e da pesca. No detalhe encontrei uma pequena aranha que me inspirou em um ensaio fotográfico. Enquanto estava entretido com ela, ouvi um ruído no chão e ao meu lado estava o maior Guaiamum (espécie de carangueijo) que vi na minha vida! Isso me fez lembrar minha rica infância em Itacurussá, onde eu e muitas outras crianças nos divertíamos brincando entre a exuberância da mata e a tranqüilidade do mar de lá.
Depois que Amelia acordou saímos de carro para explorar as praias mais distantes. Conhecemos a tranquila Praia do Felix, Ubatumirim e quando chegávamos à praia da Almada, paramos num mirante pra contemplar o mar e avistamos um grande grupo de golfinhos!
O Camping que ficamos chama-se RECANTO DOS PÁSSAROS e foi o melhor em custo benefício que encontramos em Ubatuba. Para os viajantes, recomendamos lugares como esse, que são justos na sua maneira de cobrar e oferecem um maior contato com a natureza. O terreno possui 8000 metros de área arborizada e o rio que atravessa o final do terreno dá acesso à praia de Itamambuca. O local também oferece a opção de chalés com cozinha.
Camping Recanto dos Pássaros
Contato: Sr. Antonio
Tel: 12 3845 1223
No dia seguinte seguimos no sentido contrário (sul), passando por Ubatuba e fizemos uma trilha até a Praia do Bonete. Foi uma agradável caminhada em contato com o verde.
Esse foi o nosso primeiro contato com a Permacultura. Ficamos acampados no IPEMA (Instituto de Permacultura e Eco vilas da Mata Atlântica) onde aconteceu o curso que foi ministrado por Skye, um australiano que vive no Brasil há alguns anos trabalhando com permacultura junto às comunidades no interior de Minas, onde reside com sua esposa. Ele viveu durante muitos anos em uma ecovila na Austrália e depois passou alguns anos estudando no México.
Escrever a experiência de passar alguns dias no IPEMA daria um livro inteiro.
Os banheiros são secos, para ser possível o sistema de compostagem que reutiliza o que eles chamam de “recursos humanos”, que nada mais é do que nossas fezes que são ricas em matéria orgânica que são transformadas em adubo.
Parte do alimento consumido no Ipema é produzido lá mesmo em sistema agroflorestal, que imita o sistema natural. Este, diferente das grandes monoculturas, não esgota o solo e não se utilizam fertilizantes químicos e agrotóxicos. Tudo é orgânico e adubado com os “recursos humanos”, restos de comida e outros derivados das composteiras.
A água cinza, proveniente das pias do banheiro e cozinha, é purificada através de filtros biológicos e é reutilizada para regar a horta.
Tivemos, portanto, contato com um ambiente repleto de bons exemplos a serem seguidos.
O curso aconteceu num “clima” descontraído e sem muitas formalidades. Praticamos Yoga, Dançamos em roda, conversamos a beira da fogueira... O experiente Skye falou sobre permacultura através de informações históricas, geográficas e culturais nos deixando mais a par da atual situação global em termos de sustentabilidade.
Se já tínhamos uma visão alarmante da atual situação de nosso planeta, ficamos ainda mais motivados a pensar e atuar de maneira sustentável.
No curso, depois de uma visão geral sobre o assunto, partimos para a ação que consistiu em nos dividirmos em grupos e planejarmos um ambiente sustentável, no caso uma eco vila. Eu e Amelia ficamos em grupos separados e foi uma experiência muito rica. O trabalho em grupo nos permitiu trocar muitas informações e trabalhar com as diferenças a favor da coletividade. A tomada de decisões por consenso é comum neste contexto. No final do curso todos os grupos se apresentaram e pudemos compartilhar ainda mais idéias.
(Amelia com seu grupo no planejamento de uma Ecovila)
Sair da experiência de Nazaré Uniluz para passar esses dias num lugar tão diferente, tão isolado dos conceitos de cidade grande, e com pessoas que estão numa busca parecida com a nossa, de equilíbrio, de conhecimento para a melhora da qualidade de vida em todos os aspectos, foi de tirar o fôlego. Ficamos pasmos diante de tanta informação das dificuldades que estamos trazendo para o planeta e motivados com a quantidade de energia positiva que recebemos para continuar o nosso caminho.
Amelia disse que depois desses dias a vida dela nunca mais será a mesma. Realmente estamos cada vez mais nos tornando conscientes de que precisamos mudar muitos conceitos e atos para podermos satisfazer nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.
No livro “Alfabetização Ecológica” Fritjof Capra diz “Uma vez que a característica mais proeminente da biosfera é a sua capacidade inerente de sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável terá que ser planejada de maneira tal que os seus estilos de vida, tecnologias e instituições sociais respeitem, apóiem e cooperem com a capacidade da natureza de manter a vida.” Que nos sirva de inspiração!
Assumir para nossas vidas aquilo que é radicalmente novo não é tarefa fácil – no mais das vezes enfrentamos nossos próprios limites de compreensão e aceitação. Por isso, é preciso coragem, fé e determinação para tornar-se um permacultor. E tomar o tempo como aliado.
Nas palavras de Bill Mollison de que mais gosto, a Permacultura é “uma tentativa de se criar um Jardim do Éden”, bolando e organizando a vida de forma a que ela seja abundante para todos, sem prejuízo para o meio ambiente. Parece utópico, mas nós praticantes sabemos que é algo possível e para o qual existem princípios, métodos e estratégias bastante factíveis. Os exemplos estão aí, para quem quiser ver, nos cinco continentes e em mais de uma centena de países.
Conceitos
Os australianos Bill Mollison e David Holmgren, criadores da Permacultura, cunharam esta palavra nos anos 70... Estavam buscando os princípios de uma Agricultura Permanente... O conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis”, como resultado de um salto na busca de uma Cultura Permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos e ambientais.
Para tornar o conceito mais claro, pode-se acrescentar que a Permacultura oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo a que eles tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar culturas permanentes.
No centro da atividade do permacultor está o design, tomado como planejamento consciente para tornar possível, entre outras coisas, a utilização da terra sem desperdício ou poluição, a restauração de paisagens degradadas e o consumo mínimo de energia...
No primeiro nível, a ação do permacultor volta-se principalmente para áreas agrícolas com o propósito de reverter situações dramáticas de degradação sócio-ambiental. “Culturas não sobrevivem muito tempo sem uma agricultura sustentável”, assegura Bill Mollison. No entanto, os sistemas permaculturais devem evoluir, com designs arrojados, para a construção de sociedades economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente sensíveis, dotadas de agroecossistemas que sejam produtivos e conservadores de recursos naturais.
Cooperação e solidariedade
A Permacultura exige uma mudança de atitude que consiste basicamente em fazer os seres humanos viver de forma integrada ao meio ambiente, alimentando os ciclos vitais da natureza. Como ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por uma ética fundadora de ações comuns para o bem do sistema Terra.
Mollison e Holmgren buscaram princípios éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições espirituais, que estão orientados na lógica básica do universo de cooperação e solidariedade. Não é possível praticar a Permacultura sem observá-los.
Primeiro, será preciso assumir a ética do cuidado com a Mãe-Terra para garantir a manutenção e a multiplicação dos sistemas vivos. Depois, o cuidado com as pessoas para a promoção da autoconfiança e da responsabilidade comunitária. E por fim, aprender a governar nossas próprias necessidades, impor limites ao consumo e repartir o excedente para facilitar o acesso de todos aos recursos necessários à sobrevivência, preservando-os para as gerações futuras.
Como parte dos sistemas vivos da Terra e tendo desenvolvido o potencial para desfazer a sustentabilidade do planeta, nós temos como missão criar agora uma sociedade de justiça, igualdade e fraternidade, a começar pelos marginalizados e excluídos, com relações mais benevolentes e sinergéticas com a natureza e de maior colaboração entre os vários povos, culturas e religiões.
Toda ética tem a ver com práticas que querem ser eficazes. “A ética da Permacultura serve bem para iluminar nossos esforços diários de trabalho com a natureza a partir de observações prolongadas e cuidadosas, com base nos saberes tradicionais e na ciência moderna, substituindo ações impensadas e imaturas por planejamento consciente”, assevera Bill Mollison. A chave é estabelecer relações harmoniosas entre as pessoas e os elementos da paisagem.”
Mais informações: PERMEAR (www.permear.org.br)
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