28 de abril de 2008

Subida ao "Olimpo"

Relato pessoal – Amelia Clark

Ontem decidimos fazer a trilha mais desafiadora da região aqui de Morretes, uma subida até o Pico do Marumbi. Antes de iniciarmos a subida, ainda na antiga estação de trem, recebemos instruções do roteiro, muito bem organizado por sinal, e assinamos um termo de responsabilidade. Nosso objetivo era alcançar o cume que eles chamam de “Olimpo”. Mais ou menos 1580 metros de altitude.
Eu nunca imaginei que teria tantas dificuldades.
Sabe aquelas trilhas que tem trechos bem difíceis onde você tem que escalar em pedras colocando o pé nas fendas, saltar e se equilibrar, se agarrar em troncos e galhos... Toda trilha tem trechos bem difíceis que ficam marcados como a parte mais desafiante, certo? Pois bem. Essa trilha era toda assim. Praticamente sem intervalos.
Eu sabia que haveriam momentos durante a experiência da viagem quando eu iria me perguntar “O que é que estou fazendo aqui?!”. Só não imaginava que o primeiro momento viria tão cedo... Mas fato é que na primeira meia hora de trilha eu já estava me perguntando: “Meu Deus, porque estou fazendo isso?”.
Quis desistir em vários momentos. Vários! Meu problema era físico mesmo... Eu não agüentava tanta subida. O tempo todo eu precisava levantar a minha perna mais de 70 cm pra subir e o meu joelho não agüentava mais, sem contar a coluna lombar e a panturrilha!
Confesso até que algumas vezes eu tinha lágrima nos olhos por causa da vontade de desistir. Mas fomos indo. Aos poucos. Bem devagar. O João parava pra fotografar e eu me adiantava. Mas ele rapidamente me alcançava. Sempre repetia “a gente não precisa estar fazendo isso, a hora que você quiser podemos voltar”. Eu não queria desistir porque já tinha chegado tão longe. Ficava imaginando a cena da gente lá em cima, olhando para aquela vista toda, finalmente descansando dos momentos tão difíceis. Ao chegar lá em cima eu tinha certeza que eu iria ficar muito feliz, que eu iria ver o quanto valeu a pena!
Mas não aconteceu. E não aconteceu porque não conseguimos chegar lá em cima.
Já estávamos caminhando há umas 3 horas e meia, estávamos bem alto mas ao olhar pra cima víamos que ainda faltava um bocado. E não teríamos tempo porque em algumas horas iria anoitecer.
Resolvemos voltar e não foi um momento difícil o de dar meia volta, pelo menos para mim. Não tínhamos outra opção. O duro foi descer tudo aquilo que tínhamos acabado de subir. Sem descansar e “sem objetivo”. E, pior, a descida foi para mim infinitamente mais difícil do que a subida...
Durante o caminho olhei pra todas aquelas árvores, toda aquela mata, e pensei que era uma forma do planeta me castigar por eu não ter sabido dar o devido valor a tudo aquilo no passado. Não que eu fosse dessas que desrespeita os ambientes nem nada assim, mas usufruir da energia que podemos receber com esse tipo de vida, mais próximos da natureza, é um hábito novo pra mim. Então pensei que era uma forma de vingança da Mãe Natureza contra os urbanos... ou aviso... algo do tipo “você pensa que depois de todos esses anos vai poder chegar aqui e “conversar” como se fossemos íntimas?” Mas a verdade é que depois de muitas horas, com a endorfina espalhada pelo corpo todo e já não conseguindo fazer mais nada alem de seguir em frente, eu percebi que aquele verde foi quem possibilitou a minha chegada até ali. A raiz era o degrau pra eu subir ou o corrimão pra me apoiar, a pedra era o banco pra descansar, a folha o teto pra me dar sombra. Foi uma sensação impressionante e maravilhosa. Ate quando choveu e a trilha ficou completamente escorregadia, eu senti o quanto aquilo me refrescou, o quanto era bom deslizar o braço nas folhas e sentir os pingos d’água cair sobre mim.
Quase todo dia eu e o João abrimos algum livrinho pra ler a “frase do dia”. Estamos usando um livro da Anna Sharp chamado “Reflexões” onde ela escreve frases chave sobre diversas coisas das quais ensina.
Nesse dia abri o livro e li “Podemos escolher o que queremos viver, senão tudo, pelo menos grande parte”. O João comentou: “Viu, nós escolhemos pegar essa trilha hoje”. Pensei calada comigo mesma sobre a quantidade de vezes que eu quis desistir porque em momento algum sabia de fato o que tava fazendo ali.
Em seguida li a frase da página ao lado: “A grande tarefa é conseguir vencer a si mesmo”.
Aí é claro que entendi um pouco mais.
O objetivo todo dessa viagem pra mim é vencer a mim mesma em diversos aspectos. Mas eu não consegui completar a trilha. No que venci? Ainda não sei. Mais pra frente acho que vou saber.
Sei pelo menos que com o “fracasso” a gente fica mais humilde. Eu tendo a ser um pouco prepotente, corajosa demais. Acho que hoje me senti mais humana. Menos onipotente.

(Essa foto mostra um pouco das dificuldades que encontramos na subida)

(O ponto mais alto que conseguimos chegar foi um pouco acima deste... subimos tudo isso!)

10 comentários:

Anônimo disse...

que bom vc descobriu...
A humildade parece que nos deixa mais próximo de nós mesmos.
Amélia...mesmo não tendo chegado ao Pico, valeu talvez mais as descobertas no caminho.......
Mais do que chegar... é descobri.

Anônimo disse...

Viu..eu consegui....Sózinha...sem ajuda de ninguém eu comigo mesma...beijos

Bozzi disse...

Oi minha princesa!!! Vc é mto mais vencedora do que pensa! Eu não teria nem tentado...hehehe Já estou aqui com muitas saudades e torcendo pelos dois. Muito beijos!!

Anônimo disse...

Vocês conseguiram muuuiiitttoooo, diante de tantos que não conseguiram nem tentar!!!!
Parabéns pelas novas descobertas.
beijos mil

Anônimo disse...

Esqueci de assinar o meu comentário (anterior: beijos mil).
Estou viajando com vocês e curtindo muito.
memey

Anônimo disse...

Nossa, sei exatamente o que você tá falando... Quando subi a pedra selada que era um caminho bem mais tranquilo mas de subidas intermináveis, me perguntei diversas vezes: o que estou fazendo aqui? Nem tem cachoeira? E ainda tem a volta que sempre me dá mais medo de cair, putz!
Aos poucos fui subindo... Quando cheguei no quase topo vi que teria uma escaladinha já nas alturas, minha vontade era de chorar que tudo acabaria ali e eu não chegaria no topo. Parei, respirei um pouco e subi! Quando cheguei, abri os braços e as lágrimas desciam embaçando os óculos! Um dos momentos mais lindos da minha vida, não pelo que eu vi e não por ter chegado lá, mas muito pela superação de ir muito além do que eu imaginava...
Só queria dividir!
Bjs Cacá

Unknown disse...

Garotita! Estou muito orgulhosa de voce e curtindo cada entrada no blog! Essa uber-urbana aqui nao teria nem encarado o comeco dessa trilha! Uma queixa- cade as fotos??? So vejo essas minis que ficam entre os textos- quero mais, muito mais!! Voce deixou muitas saudades...Beijos mil, Karin's

Anônimo disse...

Poxa Meme, tenho um vasto curriculo de crises de choro em trilhas, mesmo que o curriculo de trilhas seja curto. Sempre entro em panico quando o contato com a natureza me faz me sentir fragil. Ja chorei num temporal em Abrolhos, numa travessia na Chapada Diamantina, e num banheiro estilo buraco no chao na Amazonia... Acho super normal.
E sobre a tal pergunta "o que estou fazendo aqui?", me ocorre o tempo todo no metro, na fila do banco, no aviao que cruza o Atlantico e na liquidacao da Mango...
Ja estou sentindo uma saudaaaade de voce...
beijinhos da Lele

Anônimo disse...

babyoho, cada etapa que voce escreve, é um poema para adoçar as lagrimas salgadas que insistem em me acompanhar quando entro no seu quarto , quando alguem pergunta por voce, qdo eu vejo seu rostinho nestas fotos. sao experiencias ricas e corajosas que demonstram que a garotinha que nao aprendeu a andar de balanço, que tinha medo de andar de bicicleta, se superou em muito. voce, joao seguindo o Fernao Capelo Gaivota. Me enche de orgulho . claro que tambem fico em panico, penso na barraca molhada, nos seus pes encharcados , na preocupaçao eterna de quem tem filhos. maes sao egoistas e por vezes invejosas ( rsssssssssssss) . como teria sido bom se eu tivesse pego este trem da estrada da Graciosa e trilhado as minhas trilhas tambem. valeu "garotita e john boy "I am so proud of you all
love you sooooooooooo

Anônimo disse...

cês são doidos!... he he. bj, saudades. cuidem-se. Bruna.